Rogaciano Leite

Flamboyant

Rogaciano Leite
(Enfermo)

Meu velho flamboyant de minha porta,
Que à tua sombra tanto me abrigaste!
Tinhas outrora tanta seiva na haste,
Por que tens hoje toda a fronde morta?!

Resta-te apenas uma galha torta…
Por que morreste assim? Por que secaste?!
Nas rugas do teu tronco só se embaste
Crispada casca que o gorgulho corta!

Minha vida também já teve flores,
Abrigou sonhos e nutriu amores,
Sem ver o mal que me surgiu depois…

Meu pobre flamboyant! Que desenganos!
Morreste agora, com duzentos anos,
E eu vou morrer, talvez… com vinte e dois!

Cacimba Nova — São José do Egito, 1939.