Rogaciano Leite

Sob o Céu de Nápoles

Rogaciano Leite
(À M. C.)

Ó minha garça loira do Ocidente,
Sereia do Adriático, italiana,
Musa de Rafael e de Chopin!
Fala, — que eu vivo! Canta, — que eu me salvo!
Se a vida é o teu amor, sem ele eu morro…
Dá-me esse amor! Quero viver também!

Da alma de mil artistas de Sorrento
Em doce procissão de cavatinas
Nasceu a tua voz, linda Sereia!
Se teu lábio desfolha a flor de um canto
Os anjos se debruçam nas estrelas
E ajoelhado na terra o céu gorjeia!

Não tardes em dizer que és minha noiva!
Acorda na minha alma a mocidade
Que outras Musas fizeram desmaiar!
A vida era um martírio... — vi teu riso!
O mundo era um deserto... — ouvi teu canto!
Contigo eu ressuscito e quero amar!

Como Cisnes levando harpas nas plumas,
Na harmonia serena das carícias
Nossas almas voarão num dia lindo…
E nós — dois passarinhos exilados —
Fazemos nosso ninho no silêncio
Do branco céu de Nápoles dormindo.

Bem longe, como os Anjos do Desterro,
Andorinhas errantes, pombos livres
Adejando o trigal dos teus avós,
Ao apertar num beijo nos nossos lábios
As estrelas virão ver nossas núpcias
E as aves cantarão junto de nós!

Fortaleza, 1946.