O Caso
Rogaciano Leite
(A Filemon e D. Marcelina)
A tarde vai seguindo o enterro do crepúsculo…
O horizonte vermelho — ensangüentado músculo —
Numa púrpura embebe as lágrimas do sol!
O ventre da amplidão de nuvens está grávido
E o sol mesmo a tombar inda num gesto impávido
Deixa uns pentes de luz nas tranças do arrebol!
O mundo é um pedestal de sólida pirâmide
Que a cúpula do céu — desmesurada clâmide —
Abriga nessa concha enorme do Infinito!
A Vésper já reluz na abóbada simbólica
E a terra concentrada em confissão bucólica
Parece erguer a Deus o coração contrito!
A noite é a exalação perene de um turíbulo…
Como o eunuco fugindo à idéia do prostíbulo
Nos confins do planalto o vento se suicida!
As sombras se confundem místicas e plácidas
E as flores estremecem tímidas e flácidas
Sobre o seio aromal da noite adormecida!...
O Poeta lança o olhar ao mundo melancólico,
E a pérola do sonho — ergástulo simbólico —
Rebrilha em sua fronte pródiga de luz!
A mão trêmula escreve… o cérebro é um Atlântico…
A idéia é branca estrela… o ritmo é um doce cântico…
E a nau da inspiração em cismas o conduz!...
O verso é o batelão singrando o abismo frígido…
A rima é frágil vela aberta ao vento rígido,
Afrontando a impiedade e a fúria dos Nereus…
A crença no Trabalho é a bússola poética…
O Ideal é mastro… a flâmula é a estética…
O Mar é a Natureza... e o porto imenso — é Deus!
Fortaleza, 1946.
A tarde vai seguindo o enterro do crepúsculo…
O horizonte vermelho — ensangüentado músculo —
Numa púrpura embebe as lágrimas do sol!
O ventre da amplidão de nuvens está grávido
E o sol mesmo a tombar inda num gesto impávido
Deixa uns pentes de luz nas tranças do arrebol!
O mundo é um pedestal de sólida pirâmide
Que a cúpula do céu — desmesurada clâmide —
Abriga nessa concha enorme do Infinito!
A Vésper já reluz na abóbada simbólica
E a terra concentrada em confissão bucólica
Parece erguer a Deus o coração contrito!
A noite é a exalação perene de um turíbulo…
Como o eunuco fugindo à idéia do prostíbulo
Nos confins do planalto o vento se suicida!
As sombras se confundem místicas e plácidas
E as flores estremecem tímidas e flácidas
Sobre o seio aromal da noite adormecida!...
O Poeta lança o olhar ao mundo melancólico,
E a pérola do sonho — ergástulo simbólico —
Rebrilha em sua fronte pródiga de luz!
A mão trêmula escreve… o cérebro é um Atlântico…
A idéia é branca estrela… o ritmo é um doce cântico…
E a nau da inspiração em cismas o conduz!...
O verso é o batelão singrando o abismo frígido…
A rima é frágil vela aberta ao vento rígido,
Afrontando a impiedade e a fúria dos Nereus…
A crença no Trabalho é a bússola poética…
O Ideal é mastro… a flâmula é a estética…
O Mar é a Natureza... e o porto imenso — é Deus!
Fortaleza, 1946.