Minha Rede
CANÇÃO
Minha rede preguiçosa
Amorosa,
Em teu seio me embalança;
Quero ler nos céus risonhos
Doces sonhos
De ventura e de esperança.
Neste lânguido deleixo
Correr deixo
Minha vida descuidosa,
Contemplando ali defronte
No horizonte
Uma nuvem cor-de-rosa.
Pelo vão dessa janela,
Pura e bela,
Eu a vejo deslizar;
Pelo campo etéreo voga
Qual piroga
Cortando o cerúleo mar.
Linda nuvem, quem me dera
Pela esfera
Em teus ombros ir boiando,
E pairando sobre os montes,
Horizontes
Infinitos devassando!
Veria da minha terra
A alta serra,
Que há tanto tempo deixei;
E veria na janela
A donzela
Por quem tanto suspirei.
E os lares de minha infância,
Em distância
Pelo menos eu veria,
E as campinas, os ribeiros,
E os coqueiros,
A cuja sombra dormia...
(...)
Se penso nos meus amores,
Entre flores
Me sorri doce esperança:
E entre sonhos cor-de-rosa,
Amorosa,
Minha rede me embalança.
Os pesares, os queixumes,
Os ciúmes
Com horror dela se arredam;
Só prazeres sorridores,
Só amores
Em suas malhas se enredam.
Meus amigos, em mim crede:
Esta rede
Foi um presente divino;
Esta rede é encantada;
Uma fada
Me a deu em troco de um hino.
Minha rede sonolenta,
Vai mais lenta,
Vai-me agora embalançando;
Enquanto o suave sono
De teu dono
Sobre os olhos vem baixando.
Rio, abril de 1864
Publicado no livro Poesias (1865). Poema integrante da série Poesias Diversas.
In: GUIMARÃES, Bernardo. Poesias completas. Org. introd. cronol. e notas Alphonsus de Guimaraens Filho. Rio de Janeiro: INL, 195
Minha rede preguiçosa
Amorosa,
Em teu seio me embalança;
Quero ler nos céus risonhos
Doces sonhos
De ventura e de esperança.
Neste lânguido deleixo
Correr deixo
Minha vida descuidosa,
Contemplando ali defronte
No horizonte
Uma nuvem cor-de-rosa.
Pelo vão dessa janela,
Pura e bela,
Eu a vejo deslizar;
Pelo campo etéreo voga
Qual piroga
Cortando o cerúleo mar.
Linda nuvem, quem me dera
Pela esfera
Em teus ombros ir boiando,
E pairando sobre os montes,
Horizontes
Infinitos devassando!
Veria da minha terra
A alta serra,
Que há tanto tempo deixei;
E veria na janela
A donzela
Por quem tanto suspirei.
E os lares de minha infância,
Em distância
Pelo menos eu veria,
E as campinas, os ribeiros,
E os coqueiros,
A cuja sombra dormia...
(...)
Se penso nos meus amores,
Entre flores
Me sorri doce esperança:
E entre sonhos cor-de-rosa,
Amorosa,
Minha rede me embalança.
Os pesares, os queixumes,
Os ciúmes
Com horror dela se arredam;
Só prazeres sorridores,
Só amores
Em suas malhas se enredam.
Meus amigos, em mim crede:
Esta rede
Foi um presente divino;
Esta rede é encantada;
Uma fada
Me a deu em troco de um hino.
Minha rede sonolenta,
Vai mais lenta,
Vai-me agora embalançando;
Enquanto o suave sono
De teu dono
Sobre os olhos vem baixando.
Rio, abril de 1864
Publicado no livro Poesias (1865). Poema integrante da série Poesias Diversas.
In: GUIMARÃES, Bernardo. Poesias completas. Org. introd. cronol. e notas Alphonsus de Guimaraens Filho. Rio de Janeiro: INL, 195