Já lá Vão Sete Lustros
João Xavier de Matos
Já lá vão sete lustros, que este monte
Berço me foi: Já da vital jornada
Mais de meia carreira está passada;
E cedo iremos ver outro horizonte:

A mão já treme, já se enruga a fronte,
Já branqueja a cabeça, e com a pesada
Considração da vida mal gastada,
Vai-se apagando a luz, secando a fonte.

Pouco nos resta, que passar já agora;
E para as derradeiras agonias
De tantos anos, aproveite hum’hora.

Esperanças, temores, vãs porfias,
Paixões, desejos, ide-vos embora;
Favor, que me fareis por poucos dias.