Arrojos
Cesário Verde
Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela …
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.
Se ela …
Lágrimas
Cesário Verde
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no …
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no …
Manias
Cesário Verde
O mundo é velha cena ensanguentada.
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada -, …
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada -, …
Ironias do Desgosto
Cesário Verde
"Onde é que te nasceu" - dizia-me ela às vezes -
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais?
"Por que é que não possuis a verve dos franceses
"E …
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais?
"Por que é que não possuis a verve dos franceses
"E …
Esplêndida
Cesário Verde
Ei-la! Como vai bela! Os esplendores
Do lúbrico Versailles do Rei-Sol!
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
Em sedas multicores.
Deita-se com langor no azul celeste …
Do lúbrico Versailles do Rei-Sol!
Aumenta-os com retoques sedutores.
É como o refulgir dum arrebol
Em sedas multicores.
Deita-se com langor no azul celeste …
Lúbrica
Cesário Verde
Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.
Lançastes, no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de …
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.
Lançastes, no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de …
Pró Pudor
Cesário Verde
Todas as noites ela me cingia
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada a langorosa.
Todas as noites uma fantasia
Lhe emanava da fronte imaginosa; …
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada a langorosa.
Todas as noites uma fantasia
Lhe emanava da fronte imaginosa; …
A Débil
Cesário Verde
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, …
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, …
Noite Fechada
Cesário Verde
L.
Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carícias leitosas do luar?
Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos …
Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carícias leitosas do luar?
Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos …
Humilhações
Cesário Verde
Esta aborrece quem é pobre. Eu, quase Jó,
Aceito os seus desdéns, seus ódios idolatro-os;
E espero-a nos salões dos principais teatros,
Todas as noites, ignorado e só.
Lá cansa-me …
Aceito os seus desdéns, seus ódios idolatro-os;
E espero-a nos salões dos principais teatros,
Todas as noites, ignorado e só.
Lá cansa-me …