
Quem Foi que Disse?...
Quem foi que disse à floresta
Que eu não deliro por ti?
Pois numa tarde de festa
A brisa disse; eu ouvi…
Travessa brisa enredeira
Que anda dizendo essa asneira
Sobre os cachos de açaí!...
“Es que yo de ti tanto gusto”
Que até a brisa tem susto
De me ver morrer por ti!
Um dia, nos encontramos
Como dois pingos de orvalho
Que brilham — no mesmo galho,
Que tremem — na mesma flor;
E na luz de dois olhares
Nasceram, num só momento,
Dois mundos — num pensamento,
Dois pensamentos de amor!
Agora, no chão... na selva…
Colhendo flores na estrada
Tu não vês como a alvorada
Deixa um beijo em cada ramo?
A tua boca é uma aurora…
O teu sorriso é um lampejo…
Acende a luz do teu beijo
E escreve em minh’alma: — “Eu te amo!”
Olha como a folha treme
Quando o vento beija o galho!
Vês esse pingo de orvalho
Que nos teus dedos correu?
Meu beijo orvalha teu lábio…
Tu és de minh’alma a planta…
Treme a folha... o vento canta…
Deixa beijar-te! Sou eu!...
Quando o vento agita as folhas
Das palmeiras melindrosas
E vem misturar as rosas
Que perfumam teu cabelo,
Debruça-se a Primavera
Na flor azul do horizonte,
Brinca o ramo, treme a fonte…
Ah! que amor! não sei contê-lo!
Olha como a luz matiza
As águas do igarapé!...
Um momento! deste fé?
Caiu-te a rosa... do seio!
Não machuques a flor murcha
Que aos poucos se despetala!
Não a queres? Vou guardá-la…
— Relíquia deste passeio!
Quanta coisa anda na selva
Acordando a solidão!...
O canto da passarada,
Que sublime orquestração!...
A alma do mundo se inspira
Nos sons que brotam da lira
Harmonizada por Deus!
O lago azul se arrepia…
Dança a fronde... o inseto chia…
Ah! que festa! Ah! bosques meus!
Quantos entes nestas matas
Podem, felizes, viver!
São livres — logo que nascem,
São heróis — até morrer!
Bebem do campo a pureza,
Dialogam com a Natureza,
Sentem Deus na intimidade…
— Sôfregos ventos que rugem!
— Bravias feras que estrugem!
— Primitiva soledade!
Sei que não queres, na selva,
Dormir na sombra... na luz…
Ouvir os gritos da arara
E a voz dos caboclos nus;
Escutar em noites calmas
A orquestra de nossas almas
No seu noivado sem fim…
Os regatos que murmuram,
Estalos que se misturam
Aos pios do jacamim!
Talvez ventura mais longa
Fosse aqui ficar a sós…
Dormir ao baixar da noite,
Acordar com os arrebóis…
Contemplar mistérios vagos,
Banhar o rosto nos lagos,
Vibrar o remo nos rios,
E à tarde — em beijos frementes —
Colar os lábios ardentes
Aos crepúsculos sombrios!...
...................................................
Quem foi que disse à floresta
Que eu não sou louco por ti?
Pois numa tarde de festa
A brisa disse; eu ouvi...
Mas... que brisa fuxiqueira!...
Quanta mentira!... Que asneira
Anda a dizer por aí!...
Não creias! A brisa é louca…
Torna um beijo! Dá-me a boca!
Sabes que gosto de ti!...
Manaus, fevereiro de 1984.
Que eu não deliro por ti?
Pois numa tarde de festa
A brisa disse; eu ouvi…
Travessa brisa enredeira
Que anda dizendo essa asneira
Sobre os cachos de açaí!...
“Es que yo de ti tanto gusto”
Que até a brisa tem susto
De me ver morrer por ti!
Um dia, nos encontramos
Como dois pingos de orvalho
Que brilham — no mesmo galho,
Que tremem — na mesma flor;
E na luz de dois olhares
Nasceram, num só momento,
Dois mundos — num pensamento,
Dois pensamentos de amor!
Agora, no chão... na selva…
Colhendo flores na estrada
Tu não vês como a alvorada
Deixa um beijo em cada ramo?
A tua boca é uma aurora…
O teu sorriso é um lampejo…
Acende a luz do teu beijo
E escreve em minh’alma: — “Eu te amo!”
Olha como a folha treme
Quando o vento beija o galho!
Vês esse pingo de orvalho
Que nos teus dedos correu?
Meu beijo orvalha teu lábio…
Tu és de minh’alma a planta…
Treme a folha... o vento canta…
Deixa beijar-te! Sou eu!...
Quando o vento agita as folhas
Das palmeiras melindrosas
E vem misturar as rosas
Que perfumam teu cabelo,
Debruça-se a Primavera
Na flor azul do horizonte,
Brinca o ramo, treme a fonte…
Ah! que amor! não sei contê-lo!
Olha como a luz matiza
As águas do igarapé!...
Um momento! deste fé?
Caiu-te a rosa... do seio!
Não machuques a flor murcha
Que aos poucos se despetala!
Não a queres? Vou guardá-la…
— Relíquia deste passeio!
Quanta coisa anda na selva
Acordando a solidão!...
O canto da passarada,
Que sublime orquestração!...
A alma do mundo se inspira
Nos sons que brotam da lira
Harmonizada por Deus!
O lago azul se arrepia…
Dança a fronde... o inseto chia…
Ah! que festa! Ah! bosques meus!
Quantos entes nestas matas
Podem, felizes, viver!
São livres — logo que nascem,
São heróis — até morrer!
Bebem do campo a pureza,
Dialogam com a Natureza,
Sentem Deus na intimidade…
— Sôfregos ventos que rugem!
— Bravias feras que estrugem!
— Primitiva soledade!
Sei que não queres, na selva,
Dormir na sombra... na luz…
Ouvir os gritos da arara
E a voz dos caboclos nus;
Escutar em noites calmas
A orquestra de nossas almas
No seu noivado sem fim…
Os regatos que murmuram,
Estalos que se misturam
Aos pios do jacamim!
Talvez ventura mais longa
Fosse aqui ficar a sós…
Dormir ao baixar da noite,
Acordar com os arrebóis…
Contemplar mistérios vagos,
Banhar o rosto nos lagos,
Vibrar o remo nos rios,
E à tarde — em beijos frementes —
Colar os lábios ardentes
Aos crepúsculos sombrios!...
...................................................
Quem foi que disse à floresta
Que eu não sou louco por ti?
Pois numa tarde de festa
A brisa disse; eu ouvi...
Mas... que brisa fuxiqueira!...
Quanta mentira!... Que asneira
Anda a dizer por aí!...
Não creias! A brisa é louca…
Torna um beijo! Dá-me a boca!
Sabes que gosto de ti!...
Manaus, fevereiro de 1984.