Rogaciano Leite

Plenilúnio

Rogaciano Leite
(A um quadro de Branco Silva)

O pincel entre as mãos, a alma em cismas divinas,
Vendo a luz esbater-se em risos na janela,
Eis que o pintor encarna as formas peregrinas
Da visão mais gentil, da imagem mais singela;

A lua vem banhando as águas cristalinas,
Suavizando da selva a majestosa tela;
E uns tons de prata e luz tremulam nas cortinas
Da noite que se apraz bebendo os raios dela!

Há nos lábios do céu risos de estrelas calmas
Como pingos de luz no altar da imensidade,
Brancos círios de Paz na noite azul das almas…

E o artista vê na lua um vulto rosicler
Desenhando entre o véu da própria claridade
Um corpo escultural de cândida mulher!

Manaus, 18 de fevereiro de 1948.