
Na Ilha Porchat
(À poetisa santista Maria José Aranha de Rezende)
Venho isolar-me aqui, para sentir, de perto,
A Natureza florescer
E ver
O campo em flores — num sorriso aberto.
Se eu morresse hoje aqui, penso e acredito
Que teria um destino tão ameno
Quanto o feliz destino de um mosquito
Afogado num pingo de sereno.
Às vezes quero crer
Que nestes verdes e formosos campos
A gente morre como os pirilampos,
Sem sentir a tortura de morrer.
A morte aqui deve ser linda! Apenas
O inocente poeta
Sentiria da morte o doce abalo
Que — nas almas serenas
E em tarde assim tão quieta —
É simplesmente a música do estalo
Da asa de seda de uma borboleta
Que se chocasse contra as açucenas.
Morrer aqui é sono…
E a alma subiria ao céu como uma bolha
Num movimento trêmulo de folha
Que o vento leva pelo azul do Outono .
Aqui, eu só queria
Ser um simples e pobre vagalume
De luzes multicores
Para, durante o dia,
Ouvir essa inaudível sinfonia
Que deve haver no coração das flores
E, da noite ao negrume,
Embriagá-las de luz e fantasia
E morrer embriagado de perfume!
Mas... é melhor viver!
Eu quero viver muito e amar ainda,
Quero cantar a vida, com prazer,
E quero sempre ter
Muitas tardes assim, como esta tarde linda!
Esse cheiro de mato
Me deixa uma impressão de que minh’alma
Está-se desmanchando em meu olfato…
Neste silêncio a alma da gente acorda
Silêncios interiores…
E a branda luz do sol filtrando-se nas flores
É uma impalpável corda
Sonorizando a música das cores.
Se o Silêncio tivesse alma,
Talvez nem a sua alma de veludo
Sentisse a doce calma
Que eu sinto agora derramar-se em tudo,
Como a bênção de Deus posta na palma
Da paz de seda deste campo mudo.
O mar, com vertigens,
Está fazendo cócega nas pedras…
E as pedras, uma a uma,
Adormecidas nas areias virgens
Vão-se cobrindo de florões de espuma.
Como é belo isto aqui! Quanto perfume no ar!
Eu queria viver nessa floresta
E morrer junto ao mar…
Porque viver aqui — é viver numa festa!
Porque morrer aqui — é mesmo que sonhar !
Ilha Porchat — Santos, 22/08/1950.
Venho isolar-me aqui, para sentir, de perto,
A Natureza florescer
E ver
O campo em flores — num sorriso aberto.
Se eu morresse hoje aqui, penso e acredito
Que teria um destino tão ameno
Quanto o feliz destino de um mosquito
Afogado num pingo de sereno.
Às vezes quero crer
Que nestes verdes e formosos campos
A gente morre como os pirilampos,
Sem sentir a tortura de morrer.
A morte aqui deve ser linda! Apenas
O inocente poeta
Sentiria da morte o doce abalo
Que — nas almas serenas
E em tarde assim tão quieta —
É simplesmente a música do estalo
Da asa de seda de uma borboleta
Que se chocasse contra as açucenas.
Morrer aqui é sono…
E a alma subiria ao céu como uma bolha
Num movimento trêmulo de folha
Que o vento leva pelo azul do Outono .
Aqui, eu só queria
Ser um simples e pobre vagalume
De luzes multicores
Para, durante o dia,
Ouvir essa inaudível sinfonia
Que deve haver no coração das flores
E, da noite ao negrume,
Embriagá-las de luz e fantasia
E morrer embriagado de perfume!
Mas... é melhor viver!
Eu quero viver muito e amar ainda,
Quero cantar a vida, com prazer,
E quero sempre ter
Muitas tardes assim, como esta tarde linda!
Esse cheiro de mato
Me deixa uma impressão de que minh’alma
Está-se desmanchando em meu olfato…
Neste silêncio a alma da gente acorda
Silêncios interiores…
E a branda luz do sol filtrando-se nas flores
É uma impalpável corda
Sonorizando a música das cores.
Se o Silêncio tivesse alma,
Talvez nem a sua alma de veludo
Sentisse a doce calma
Que eu sinto agora derramar-se em tudo,
Como a bênção de Deus posta na palma
Da paz de seda deste campo mudo.
O mar, com vertigens,
Está fazendo cócega nas pedras…
E as pedras, uma a uma,
Adormecidas nas areias virgens
Vão-se cobrindo de florões de espuma.
Como é belo isto aqui! Quanto perfume no ar!
Eu queria viver nessa floresta
E morrer junto ao mar…
Porque viver aqui — é viver numa festa!
Porque morrer aqui — é mesmo que sonhar !
Ilha Porchat — Santos, 22/08/1950.