Rogaciano Leite

Judeu Errante

Rogaciano Leite
Somente hoje, tristíssimo, descubro
(Pelas poucas notícias que me envia)
A falência das juras da judia
Cujo nome de beijos inda cubro.

Naquela noite azul do mês de outubro,
Quando a boca de tâmara me abria,
Gulosamente meu amor bebia
Na carne fina de seu lábio rubro.

“Juro ficar cristã!” — Disse, a meus pés.
E eu jurei, pelas Tábuas de Moisés,
Que seria um hebreu — dess’hora em diante..

Vejo agora a loucura do meu ato:
A judia mentiu!... Mas, eu, de fato,
Serei — por seu amor — Judeu Errante!

Santos, 21/08/1950.