
Crepúsculo Amazônico
Ao comandante Vitor José Dias
Sobre o jarro doirado lá do Poente
pende, rubra, uma flor…
É o sol que se vai pondo, lentamente,
com medo de se pôr…
As árvores coladas no horizonte
são os lábios dos céus;
E o clarão que reluz por trás do monte
é o sorriso de Deus!
As nuvens, como leques desmembrados,
deslizam na amplidão;
E as folhas, como sonhos descorados,
vão rolando no chão.
O vento que soprara a tarde inteira
vai minorando o açoite…
E o dia troca as sedas da clareira
pelo crepe da noite!
Deus escreve no mundo o imenso verso
da Suprema Poesia!
E tudo ajoelhado ante o Universo
murmura: — AVE MARIA!
O sol vai se apagando como um facho
de chamas moribundas;
E o céu vai se apertando como um cacho
sobre as frondes fecundas.
Nos ombros do silente florestal
a asa do Escuro cresce;
Mas na fronte da abóbada visual
a Vésper aparece!
A canoa desliza na corrente…
— frágil guizo de pau
Que leva a salvamento o justo e o crente
e faz tremer o mau!
Debruçado na terra o céu parece
pedir a Deus perdão…
E a terra de mãos postas, numa prece,
atinge a Contrição!
Das águas os rumores sobre o leito
calam-se, de repente;
E os ramos, numa vênia de respeito,
vêm beijar a corrente.
As folhas, como dedos entreabertos,
apontam para o Além…
E as aves, nos seus ninhos descobertos,
rezam a Deus... também!
Por entre os ramos da floresta espessa
o tigre fita a lua,
E tonto de emoção deita a cabeça
na raiz semi-nua.
O Silêncio concentra-se no Espaço
como a voz da Verdade;
E o Tempo vai marchando passo a passo
no chão da Eternidade!
O navio resvala à flor da espuma
no fluxo das marés;
E o mastro — como um crente — lá se apruma
por cima do convés.
O farol que assinala o porto amigo
aparece no Oeste;
E o nauta, que está salvo do perigo,
vai remando a boreste.
Perfilado na gávea o comandante
faz da Cruz o Sinal…
E um apito anuncia, estridulante,
a chegada triunfal!
Amazonas, 26/01/1948 — a bordo do “Rio-Mar”.
Sobre o jarro doirado lá do Poente
pende, rubra, uma flor…
É o sol que se vai pondo, lentamente,
com medo de se pôr…
As árvores coladas no horizonte
são os lábios dos céus;
E o clarão que reluz por trás do monte
é o sorriso de Deus!
As nuvens, como leques desmembrados,
deslizam na amplidão;
E as folhas, como sonhos descorados,
vão rolando no chão.
O vento que soprara a tarde inteira
vai minorando o açoite…
E o dia troca as sedas da clareira
pelo crepe da noite!
Deus escreve no mundo o imenso verso
da Suprema Poesia!
E tudo ajoelhado ante o Universo
murmura: — AVE MARIA!
O sol vai se apagando como um facho
de chamas moribundas;
E o céu vai se apertando como um cacho
sobre as frondes fecundas.
Nos ombros do silente florestal
a asa do Escuro cresce;
Mas na fronte da abóbada visual
a Vésper aparece!
A canoa desliza na corrente…
— frágil guizo de pau
Que leva a salvamento o justo e o crente
e faz tremer o mau!
Debruçado na terra o céu parece
pedir a Deus perdão…
E a terra de mãos postas, numa prece,
atinge a Contrição!
Das águas os rumores sobre o leito
calam-se, de repente;
E os ramos, numa vênia de respeito,
vêm beijar a corrente.
As folhas, como dedos entreabertos,
apontam para o Além…
E as aves, nos seus ninhos descobertos,
rezam a Deus... também!
Por entre os ramos da floresta espessa
o tigre fita a lua,
E tonto de emoção deita a cabeça
na raiz semi-nua.
O Silêncio concentra-se no Espaço
como a voz da Verdade;
E o Tempo vai marchando passo a passo
no chão da Eternidade!
O navio resvala à flor da espuma
no fluxo das marés;
E o mastro — como um crente — lá se apruma
por cima do convés.
O farol que assinala o porto amigo
aparece no Oeste;
E o nauta, que está salvo do perigo,
vai remando a boreste.
Perfilado na gávea o comandante
faz da Cruz o Sinal…
E um apito anuncia, estridulante,
a chegada triunfal!
Amazonas, 26/01/1948 — a bordo do “Rio-Mar”.